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Os transportes no Sri Lanka

Ao longo dos 16 dias que passámos no Sri Lanka experimentámos vários transportes que fazem parte do dia a dia dos Srilankenses. Fomos descobrindo várias particularidades, como a condução peculiar e as portas sempre abertas, quer nos comboios quer nos autocarros. Foi nos transportes que tivemos as melhores oportunidades de aprender e conviver com este simpático povo.

Bastou uma pequena pesquisa sobre o que fazer neste país para perceber que andar de comboio é uma das experiências quem tem de ser vivida sem qualquer dúvida. O percurso Kandy - Ella está nas listas dos percursos de comboio mais bonitos do mundo e estava, como é óbvio, nos nossos planos.

Da nossa experiência, os comboios são uma óptima forma de viajar pelo país. Funcionam bem e cumprem minimamente os horários. Os atrasos foram no máximo de meia hora, com excepção do primeiro mas aí foi por motivos de força maior.

A generalidade dos comboios tem 1ª, 2ª e 3ª classe. A 1ª não é aconselhada, pelo menos no percurso Kandy-Ella, porque além de janelas mais pequenas, por serem carruagens com ar condicionado, não abrem, o que limita a experiência. Na 2ª e 3ª classe, há comboios só com lugares não reservados, outros com algumas carruagens de lugares reservados.

Só comprámos reservados na primeira viagem. Têm de ser comprados com antecedência [muita no caso Kandy - Ella e vice-versa] e custam sempre 600 LKR (3,32€) independentemente do percurso. Nos não reservados podemos ter sorte e conseguir lugar sentado ou ter de fazer uma parte do percurso de pé [ou sentados nas portas, como faz a maioria] e esperar até alguém sair. Acabámos por ter lugar sentados ao fim de cerca de uma hora de viagem. O preço dos não reservados é consideravelmente mais baixo. Viajamos sempre em 2ª classe mas, do que vimos, a 3ª não nos pareceu muito pior. O site seat61.com tem informações muito úteis, com horários, o que nos deu uma grande ajuda.

Os comboios são antigos, têm 3 ou 4 ventoinhas no tecto por carruagem. São muito sujos, nem todos os tabuleiros, braços e assentos funcionam. As travagens são bruscas, os arranques quase nos atiram do banco, o caminho deve ser a experiência mais parecida com estar no tambor duma máquina de lavar roupa. Mas nada disto estragou a experiência. Pelo contrário, as viagens de comboio foram das melhores coisas que fizemos no Sri Lanka. As paisagens são de tirar o fôlego e é bastante mais confortável que andar de autocarro.

Descobrimos os autocarros públicos em Sigiriya, ao 3º dia de viagem, depois de já termos gasto algum dinheiro em tuk-tuks nos dias anteriores e de descobrirmos que era possível ir até Dambulla de autocarro por um preço bem mais simpático. Perguntámos no hotel e disseram-nos que o autocarro era na estrada principal. Já na estrada, fomos ajudados por uns polícias que nos indicaram onde apanhar o autocarro.

Entrámos no autocarro, muito velho, com bancos de 3 lugares à direita e 2 à esquerda [onde cabem 2 pessoas e meia e 1 e meia, respectivamente]. Os autocarros têm sempre um condutor e um cobrador. Sentámo-nos e esperámos pelo cobrador. Ele trazia um aparelho no antebraço e, após lhe dizermos o destino, entregou-nos o papel – 40 LKR: 0,22€ os dois!

Claro que, ao andarmos de autocarro, temos sempre de estar preparados para caminhar um bocado. Mas não se pode ter tudo.

Com a experiência fomos descobrindo que há autocarros vermelhos e azuis. Os vermelhos fazem distâncias mais curtas, são, em geral, mais velhos e mais baratos; os azuis são considerados os expresso, são mais modernos e ligeiramente mais caros. Muitos deles são decorados com vinis temáticos por dentro - filmes da Disney, carros corrida… - e têm sempre um pequeno altar com uma imagem do Buda e um recipiente com água. Às vezes os altares são iluminados com leds coloridos.


Descobrir as paragens foi sempre um desafio. Há algumas que são estruturas em cimento semelhantes às nossas antigas. Umas estão todas arranjadas e pintadas, outras parecem apenas uma ruína de paragem. Às vezes há um sinal de trânsito, um quadrado amarelo no chão. Outras vezes não há nada de nada. Valeu-nos a simpatia da população que sempre nos ajudou.

Andar de autocarro é, simultaneamente, a melhor e a pior experiência de todas as que vivi neste país. Haverá melhor maneira de sentir o Sri Lanka do que ver um DVD de um concerto de um suposto roqueiro sem t-shirt mas de calção branco, uma bolsa à cintura, à volta de uma barriga proeminente, a altos berros, tudo isto enquanto usamos uma mão para nos agarrarmos durante as travagens bruscas, temos o nosso ombro direito à frente do da rapariga ao nosso lado e o esquerdo a sentir a genitália de um moço que vai de pé, com um cheiro não muito agradável?!

Na verdade, nem todas as experiências foram assim tão más. Mas todas incluíram música local – os autocarros têm ecrãs onde passam dvd´s de artistas locais. Por vezes concertos onde todo o público tem ar de tédio, completamente estáticos e nem aplaudem, mesmo depois de o artista implorar; outros são mesmo videoclips, o que diminui um pouco o ridículo da situação, apesar de serem muito maus.

A condução no Sri Lanka, como já referi, é muito peculiar. Mas os condutores de autocarro elevam essa peculiaridade ao nível do perigo. Algumas das vezes, em que fui à frente em pé, tive de me virar de costas para não ver. Os condutores fazem tudo o que podem para não travar. Muitas vezes já estão tão em cima que a única solução é desviar para a faixa contrária, mesmo que venha alguém de frente, inclusivamente outro autocarro. Quem sofre, geralmente, são as motas e os tuk-tuks que são abalroados da estrada. Daí termos posto [quase] de lado o aluguer de mota no sul.

Andar de autocarro exige algum sangue frio, mas não há melhor forma de conhecer este maravilhoso povo. Foi no autocarro que vimos a sua simpatia, generosidade e solidariedade. Uma particularidade dos Srilankenses nos autocarros é conseguirem caber ou passar por sítios aparentemente impossíveis. O corredor dos autocarros é estreito mas, mesmo quando cheio de gente, permite, por artes mágicas talvez, que as pessoas consigam circular por ele. Várias vezes nos mandavam sentar em lugares onde parecia impossível chegarmos, mas, uma perna aqui, um braço ali, um apertão acolá e conseguíamos realmente. Com muito contacto físico é certo, mas conseguíamos.

O sistema de autocarros funciona muito bem. Nunca tivemos de esperar mais do que 10 minutos para entrar num autocarro. Têm muitas rotas que nos permitem deslocar por todo o país, a um preço muito simpático. Por vezes somos claramente enganados no preço, em especial se não nos entregarem o papel, mas mesmo com o engano continua a ser barato.

É fácil perceber a lógica dos autocarros, basta ver qual a estrada principal que vai de um sítio para o outro e há sempre um autocarro que permite fazer essa viagem. A única desvantagem é só haver autocarros durante o dia. Os cobradores são simpáticos mas são poucos os que nos indicam a paragem, por isso convém ir seguindo o percurso no mapa [usámos sempre o maps me que funcionou lindamente].

Mostrar mapas ou percursos aos cobradores e aos condutores de tuk-tuk não resulta. Tentámos várias vezes e eles olham mas depois perguntam a um local como se vai para lá. Também quem somos nós, os estrangeiros, a dizer como se vai para um hotel na terra deles. Por vezes, até ficavam um pouco ofendidos.

Ao início usámos muito o tuk-tuk, mas, depois de descobrirmos os autocarros, evitámos ao máximo porque, se formos somando, gasta-se mesmo muito dinheiro, apesar de ser muito mais confortável que o autocarro. É sempre preciso negociar muito, e claro que o preço depende da distância - quanto maior, mais barato fica o preço por km. A condução também é em modo rally e a velocidades que, pela lógica, um tuk-tuk não conseguiria atingir. É, no entanto, a melhor forma de deslocação dentro das cidades e estão sempre disponíveis a qualquer hora.

Independentemente do meio de transporte, o importante é que as deslocações neste país são fáceis e há possibilidades para todas as carteiras. O importante é ir e conhecer este país, que tanto merece uma visita!

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