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Vão três semanas, e se não gostarem?

Esta foi a pergunta feita pela mãe do Pedro quando ele lhe falou da viagem que vamos fazer. Apesar de não estarmos juntos nesse momento, a reacção dos dois foi a mesma: rir. Foi algo que nunca nos passou pela cabeça, quanto mais ser uma preocupação quando marcamos uma viagem. Para mim, nenhuma viagem é demasiado longa, pelo contrário, têm até sido todas demasiado curtas.


Com uma excepção: aquelas em que se vai para um local fechado sem contacto com a cultura e o população local. Na verdade, já fiz uma viagem em que me recusava a ficar lá mais um dia que fosse. Foi no Verão de 2015, umas férias marcadas de véspera porque o Pedro não sabia se ia conseguir ter férias. Acabámos no sítio onde eu dizia que nunca iria [pelo menos naquele contexto]: República Dominicana.


Confirmou-se aquilo que já achava, as paisagens são espectaculares, mas apenas quando se sai do hotel. Na altura ainda pesquisei sobre alugar carros para visitarmos à nossa maneira mas, a pouca informação que encontrei, dizia não ser muito seguro. Como não era comum, a polícia embirrava um bocado com os turistas e, pusemos a ideia de lado. Fizemos como toda a gente, excursões em rebanho. Fugimos das que toda a gente fazia, como andar de boogie em "aldeias típicas com população local" porque seguramente aquelas aldeias seriam muito típicas.


Procuramos alternativas aos barcos com música e bar aberto para ir à ilha Saona e conseguimos, embora com o representante da agência sempre tentar convencer-nos que não era seguro e que íamos ser enganados. Fomos numa lancha rápida e acabámos por fazer várias paragens em locais onde, pelo menos, estavam poucos turistas. Claro que o centro de conservação de tartarugas que nos mostraram nos suscitou algumas dúvidas. E até já vimos as tartarugas pequeninas "feitas à mão pela população local" à venda num mercado de Natal na Europa. Mas aquela cor de mar faz esquecer tudo isso.


Curiosamente nessa excursão conhecemos um casal de Portugueses na casa dos 30 e muitos que se riam de nós sempre que expressávamos admiração pela paisagem ou tirávamos uma foto. A certa altura ele diz-nos: esta é a primeira viagem que fazem não é? Não, não era. Mas aqui é a primeira vez? Sim. Ah, nós já é a quinta vez que cá vimos! Com o aprofundar da conversa descobrimos que eles viajavam há 15 anos sempre com os mesmos destinos: República, Cuba, México e Brasil. Tinham o sonho de ir às ilhas Gregas mas era muito caro. Quando lhes dissemos que tínhamos lá estado no Verão anterior e que tinha saído barato percebemos que eles nem sabiam que era possível marcar um voo e um hotel por eles próprios.


Só passamos 3 dias seguidos no hotel e já estávamos a dar um pouco em malucos. Ainda ponderámos nessa altura a ideia do carro mas não havia nada ali à volta e, o que havia, estava bem fora do alcance da nossa carteira. Não fosse um pedido de casamento [in]esperado e a viagem tinha sido muito fraquinha. No regresso lembro-me de termos encontrado o casal da excursão e eles terem dito que às vezes, quando não havia lugares no avião para toda a gente, ofereciam mais uns dias a algumas pessoas. Lembro-me de ter pensado: nem morta ficava!


Senti-me presa num local descontextualizado do país onde estava. Aquele hotel seria igual quer fosse na República Dominicana, no Algarve ou na China. E não é conforto e comida internacional em grande quantidade que procuro quando viajo.


Quando viajo quero conhecer pessoas de outros países, observar as suas rotinas, a sua cultura. Quero ver coisas diferentes da minha realidade, quero estar aberta a novas ideias. Quero experimentar coisas que não faço em casa. Quero ver paisagens bonitas mas também quero ver cidades feias, barulhentas e que me façam repensar o meu modo de vida. Quero sair dos meus sapatos ocidentais e pôr-me nos dos locais, mesmo que isso implique ficar descalça. Quero ser confrontada com situações que me fazem perceber que não há uma opinião certa, não há uma maneira de ver o mundo: há mil maneiras e que estas só dependem da realidade que cada um conhece. Acredito que quanto mais realidades conhecemos menos opiniões formadas teremos. E acredito que essa é uma das melhores coisas que tiramos de uma viagem: tornarmo-nos mais tolerantes com o outro, com o diferente de nós. Isso e a capacidade de rapidamente nos adaptarmos a qualquer situação, um treino que só se faz quando saímos da nossa zona de conforto.


Por isso rir é a única resposta à pergunta "e se não gostarem?". Para mim, viajar não é gostar de um sítio, é, acima de tudo, gostar da pessoa que nos tornamos ao conhecer esse sítio!





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