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Dia 2 na Escócia, a chegada à ilha de Skye

Depois da chuvada da noite anterior, a prioridade da manhã foi retirar tudo da tenda para “secar”. Sim, secar era relativo porque, apesar de não estar a chover, também não havia sol. Soubemos entretanto que o parque de campismo tinha máquina de secar e seria a nossa salvação. Não para tudo, porque pôr uma tenda ou um colchão numa máquina de secar não iria correr bem, mas pelo menos os sacos de cama e a roupa que estavam molhados estariam salvos. O problema é que só havia uma máquina e já estava a ser usada. Os programas, viemos a saber depois, eram de 45 minutos o que nos atrasou muito a saída do parque. O que não pode ir para a secadora ficou aberto, dentro do possível, no banco de trás do carro, para ver se não apodrecia.


Acabámos por só sair do parque às 11.00 e já não conseguimos o bilhete para o Ferry seguinte, só para o das 13.30. Demos uma voltinha pela vila de Mallaig, munidos dos impermeáveis porque a chuva continuava. Enquanto almoçávamos um belo fish and chips junto à estação, vimos uma fumarada: o comboio a vapor tinha chegado. Aproveitámos para ir vê-lo de perto. E por alguns momentos parecia que estávamos noutro século: maquinistas com a cara farruscada a encherem pás de carvão e um fumo muito escuro a sair da chaminé, enquanto o comboio saía lentamente da estação. Só por este momento valeu a pena termos perdido o primeiro ferry.


Atravessámos o pequeno canal que separa o continente da ilha de Skye, onde chegámos próximo das 14.00. Começámos a explorar a partir do sul. A diferença nas estradas foi notória assim que iniciámos a exploração da ilha. Tirando a estrada principal, todas as outras são tão estreitas que só passa um carro de cada vez. Para o cruzamento entre carros há umas saliências na estrada, quase sempre sinalizados, os passing place. Incrivelmente as pessoas, no geral, são muito respeitadoras e param quase sempre, mesmo quando o carro ainda está bastante longe. No final há sempre um cumprimento entre condutores.


Passámos por Tarskavaig e Tokavaig sempre com o mar à esquerda e pequenos bosques ou terrenos de erva baixa à direita. Apenas uma constante na paisagem: as ovelhas. Conduzi um pouco para experimentar. Após bater um monte de vezes com a mão direita na porta para pôr uma mudança, deixar o carro quase ir abaixo só para não ter de pôr mudanças com a mão esquerda e passar num buracão na berma do lado esquerdo em que achei que tinha partido alguma coisa no carro, desisti e voltou o P. para o volante.


Fomos em direcção a Glenbrittle ao ritmo natural da ilha de Skye, um ritmo lento que permite apreciar e absorver toda a beleza à nossa volta. Parámos várias vezes pelo caminho para apreciar a paisagem, em especial ao passarmos pelas Cuillin Hills. São várias montanhas enormes com vegetação completamente diferente em cada ponto para onde olhamos, apenas se repetem os pontinhos brancos - as ovelhas - e os riachos que correm montanha abaixo. Alguns cumes, os mais altos, estão tapados de nuvens. Outros reflectem o sol, que lá vai brilhando nos poucos pontos onde não há nuvens. Posso correr o risco de me tornar repetitiva, mas aquelas paisagens são de outro mundo, há ali magia, sem qualquer dúvida.


Quase a chegar ao nosso destino, numa estrada a altitude bem elevada, estávamos rodeados de nevoeiro. Aos poucos esse nevoeiro foi levantando e foi com grande surpresa que percebemos que, atrás daquela parede de branco onde não parecia existir nada, estava uma montanha ainda maior. E mais uma vez dissemos: esta é a melhor paisagem da Escócia (no final não foi, mas está no top 5). Chegados a Glenbrittle descobrimos um parque de campismo num imensamente campo verde, com vista para o mar. Estava um sol fantástico naquela altura e muito convidativo a montar a tenda e ficar. Mas ainda eram 17.00 e faltava muito para o jantar. Além disso, segundo as previsões iria chover torrencialmente nessa noite e já tínhamos decidido dormir no carro.


Ainda fomos até Talisker, mas a estrada era privada e não dava para ficar por lá. Decidimos ir até Carbost, uma pequena vila à beira lago. Lá, encontrámos um parque de estacionamento duma destilaria, junto a uns balneários públicos com wc e chuveiros e cujas portas abriam com moedas de 20 pennies. Não tínhamos uma única moeda destas, mas felizmente um wc estava aberto e conseguimos utilizar à vontade. Os banhos do dia seguinte logo se veria.


Entretanto a chuva estava de volta, mas acompanhada de vento. Cozinhámos a comida que levava menos tempo a preparar, com o fogão entre as duas portas abertas do carro, numa luta constante com o vento. Comemos dentro do carro e fizemos a transformação do carro em caravana: pusemos impermeáveis e capas nos vidros para tapar a claridade dos candeeiros de rua e também para ganharmos um pouco de privacidade. Com os bancos do carro bem rebatidos e os sacos de cama e almofadas conseguimos passar uma noite bastante chuvosa com muito mais qualidade que a anterior. Só as costas é que se queixaram, mas são os 30's...


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