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Dia 1 na Escócia, de Glasgow a Arisaig

Começámos o dia de regresso ao aeroporto para levantar o carro. Depois da primeira estranheza de entrar para o lado esquerdo do carro e não ter volante, fomos em direcção a Glasgow. Não para conhecer a cidade, isso tinha ficado acordado entre nós: esta viagem era de natureza. Fomos apenas à Decathlon comprar uma botija para o nosso fogão de campismo e seguimos na direcção do Loch Lomond.


Pelo caminho fomo-nos habituando ao carro: o P. a pôr mudanças com a mão esquerda, eu a dizer que já estava na berma. Mas aos poucos e poucos foi-se tornando mais fácil. Chegados à zona do Loch Lomond saímos da estrada principal para uma secundária que passava mais próximo do lago. Fomos parando pelo caminho em Aldochlay, Luss, Inverbeg e a Escócia foi-nos, a pouco e pouco, revelando a sua beleza. Daí seguimos directos para Glencoe, onde estava previsto fazermos uma caminhada. Mas a chuva começou, aumentou e não deu tréguas.


Algures pelo caminho passámos por uma placa que dizia “Welcome to Highlands” e, logo no segundo seguinte, a paisagem mudou completamente. Passou de floresta a pântano. Mas um pântano lindíssimo, como eu nunca tinha imaginado: terrenos a perder de vista com vegetação rasteira em vários tons de verde, amarelo e roxo, água por todo o lado e uma névoa que dava um ar místico à paisagem. Se naquele momento nos cruzássemos com uma fada ou um druida não teria dúvidas que eram reais.


Almoçámos em Glencoe no único café/restaurante que encontrámos na pequena vila à beira lago. A vila parece saída de outro século, com as suas pequenas casas de madeira e rodeada de montanhas com os seus cumes tapados pelas nuvens baixas. A caminhada para o Lost Valley era a poucos quilómetros dali, mas, segundo lemos, o caminho era um pouco acidentado e só devia ser feito com boas condições meteorológicas por isso decidimos não arriscar.


Seguimos para Fort William e a chuva tornou-se ainda mais intensa. Acabámos a dormir a sesta no carro num parque de estacionamento dum supermercado. Quando acordámos quase não chovia e decidimos seguir. Fomos até Glenfinnan para conhecer a ponte do comboio com 21 arcos, famosa graças ao filme do Harry Potter. Finalmente a chuva parou e deu lugar a um magnífico sol. Caminhámos um pouco até chegar à ponte, onde pudemos finalmente ver a grandiosidade da paisagem sem nuvens no caminho. Melhor só se tivéssemos visto o comboio que ainda trabalha a carvão a passar.


O plano era apanhar o ferry de Mallaig para a ilha de Skye, mas como já não conseguíamos apanhar o último decidimos ir até à costa e procurar um sítio para montar a tenda. Íamos com a ideia tentar fazer campismo selvagem. Na Escócia é permitido desde que se respeitem algumas condições, como a tenda não se ver da estrada, não acampar em grupo e não deixar marcas quando se sai. Mas na prática é bastante difícil encontrar um sítio que corresponda à exigência de não se ver da estrada. Todos os caminhos que encontrávamos que não a estrada principal eram particulares e deixavam bem claro que não permitiam campismo. Perto da estrada, sem vegetação alta, também não conseguíamos um local que não fosse visível.


Após algumas voltas encontrámos uma sinalização de parque de campismo mas com um papel colado a dizer full. Fingimos que não percebemos e fomos lá ver. A estrada era de terra e ao fim de pouco tempo começámos a ver um terreno relvado, com meia dúzia de autocaravanas e tendas, rodeado de uma praia com um mar muito calmo e convidativo. Encontrámos logo um senhor, o dono do parque, e perguntámos se podíamos ficar, que a nossa tenda era muito pequena. Ele disse que sim e foi-nos mostrar um local onde podíamos pôr a tenda, no último montinho de relva antes da praia, ou seja, com vista privilegiada. Preço: 40 libras, dissemos imediatamente que não ao que ele respondeu: mas vocês são estudantes. Nós dissemos que não e ele diz: hoje são! Por isso são 14 libras e os banhos quentes são 1 libra para 10 minutos. Ficámos!


Fomos montar a tenda e em menos de 2 minutos descobrimos o que eram verdadeiramente os midges, os famosos. Tínhamos lido no guia que havia, nos meses de Julho e Agosto, uma praga de uns mosquitos minúsculos nas Highlands que conseguiam estragar as férias às pessoas. Achamos que era exagero. Não era! Assim que começámos a tirar as coisas do carro, fomos rodeados por nuvens de mosquitos e a ser picados em todas as partes do corpo que estavam destapadas. Enchemo-nos do repelente que tínhamos levado mas sem sucesso. Tentámos tapar-nos ao máximo mas eles entravam em todo o lado: olhos, orelhas, inspirávamos e entravam pelo nariz. Um desespero. Uma paisagem daquelas e nós à luta com os mosquitos.


Lá cozinhámos a primeira massa instantânea e comemos sempre em andamento para evitar um pouco os midges. Depois de lavar a loiça fomos dar um passeio pela praia e regressámos à tenda. Ainda ficámos um pouco no carro para não acender luzes na tenda porque os midges passavam pela rede mosquiteira.


Por volta das 23 fomos dormir e já chovia um pouco, mas nada de especial. Sei que fui acordando várias vezes com o barulho da chuva a aumentar e sentia os pés a ficarem meio húmidos. Mas ia adormecendo. Até que às 4 da manhã o vento começou a abanar bastante a tenda. Acendemos a luz e percebemos que a tenda estava completamente encharcada, tínhamos uma poça de água nos pés e estava a pingar por todo o lado. Só tivemos uma hipótese: esvaziar o colchão, correr para o carro que felizmente estava perto da tenda, pôr o colchão no porta bagagens e dormir o resto da noite nos bancos da frente que, por sorte, ficavam quase na horizontal. De manhã olhei pelo espelho do carro e pensei: a tenda voou, não está no sítio. Mas afinal era do ângulo, estava lá como se a noite tivesse sido pacífica. O único sinal era uma pequena piscina dentro dela. E assim foi a nossa primeira noite da campismo na Escócia.



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