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Três "nunca" no espaço de um mês

A palavra nunca faz parte da minha vida desta a infância mais remota. Contam-me que, quando ia ao Pediatra, ele na brincadeira dizia sempre que me ia pôr numa caixa e levar-me para casa, ao que eu respondia invariavelmente NUNCA! Já só me lembro de ir lá e ele me chamar a Inês Nunca.


Obviamente (e também felizmente) há muitos "nunca me aconteceu isto" na vida. Mas este mês surgiram-me três situações que nunca me tinham acontecido na vida. Todas em contexto de viagens. E pronto, posso não ter uma agência de viagens, mas já la vão 9 anos a organizar as minhas viagens e as de quem me acompanha.


O primeiro "nunca me tinha acontecido" foi logo na chegada ao Vietname: perdi o primeiro avião da minha vida! Ja tinha estado várias vezes no limite, a ser a última a entrar no avião mas sempre tinha conseguido entrar. A sensação é terrível, especialmente porque via o tempo a passar e não podia fazer nada. Foi uma asneira de principiante, esqueci-me de confirmar se havia mais do que um terminal e comprei o voo interno com 2 horas de diferença. Entre andarmos de um lado para o outro a descobrir onde se ia para o outro voo, uma fila enorme da emigração, voltar para trás porque tínhamos de comprar primeiro o visto, outra fila enorme, espera pela emissão do visto e novamente a fila da emigração, que continuava enorme, passaram 2 horas e meia. Voo perdido, uma sensação de impotência. Conseguimos comprar um voo para o mesmo dia. Muitas horas depois e com algum dinheiro a menos lá chegámos a Hanoi. Claro que o seguro também não serviu de nada porque há sempre aquelas letras pequeninas que têm tudo como exclusão. Mas vendo o lado positivo, ja estávamos no Vietname e os voos internos, mesmo no próprio dia, não são extremamente caros.


O segundo aconteceu pouco depois. Estávamos há cerca de uma semana no Vietname e queríamos fazer praia. Como no continente não há praias paradisíacas, decidimos ir a uma ilha, Phu Quoc. Como não havia voos directos e, para não perdermos uma manhã ou tarde inteira com a viagem, decidimos marcar um hotel ao pé do aeroporto e fazer um voo à noite e o outro logo de manhã cedo. Era a única noite, além das 2 primeiras, que estava marcada. A entrar para o avião recebo um mail do booking a dizer que o hotel me tinha cancelado a estadia. Não me preocupei muito porque achei que, chegando ao sítio, seria fácil arranjar um hotel para dormir. Eram tão poucas horas que no avião decidimos dormir pelo aeroporto. Mas ao chegarmos percebemos que o aeroporto estava fechado (esquecemo-nos que havia o terminal internacional) e fomos até ao hotel que tínhamos reservado. Ainda entrámos noutro para ver se havia quarto, não havia. O nosso também estava cheio. Fomos ao seguinte e estava fechado. O 4o tinha um quarto livre. Pedimos para ver mas confesso que assim que vi a cama disse que sim, e não foi pelo bom aspecto dela, foi mesmo por desespero. Depois vi que tinha baratas mortas e estava cheio de mosquitos. Mas pior de tudo, o homem ficou com o passaporte do P. e só devolvia no dia seguinte. Nós nem tínhamos a certeza se aquilo era mesmo um hotel ou se o homem lá trabalhava. Ainda procurámos outro sítio mas estava tudo cheio. Ficámos. Com o coração nas mãos. Estar num país como o Vietname sem passaporte não é bom. Acordei umas 5 vezes em 3 horas. Mas de manhã ele devolveu o passaporte e correu tudo bem.


O terceiro, e o pior nunca de todos aconteceu hoje. Na reserva do alojamento para Dublin. Para 6 pessoas. Utilizei pela primeira vez o airbnb e após contacto directo com o dono da casa e transferência bancária para uma conta italiana, com o valor total mais o depósito, fiquei a saber que o airbnb não recebe pagamentos por transferência bancária nem se responsabiliza por contactos feitos fora do site. Fui burlada. A sensação de roubo voluntário parece-me pior que apontarem-me uma arma. Claro que não passei por nenhuma situação destas e não posso comparar. Mas sinto-me horrível. Não só porque fui burra e tonta e não li as informações do site antes de o utilizar, mas também porque fui responsável por marcar o alojamento de mais 5 pessoas! É certo que também viram a confirmação e ninguém desconfiou, mas fui eu que fiz. E não desejo que aconteça a ninguém. A sensação é horrível, só queria enfiar-me num buraco em posição fetal e chorar. Chorei só. De irritação. De frustração. De saber que nos fartamos de trabalhar para conseguir viajar e depois há gente que vive de enganar os outros. De descobrir que cada vez há mais gente má no mundo. Resta-me a esperança, quase vã, de que isto é tudo um mal entendido porque o dono da casa me continua a responder aos e-mails e até disse que me ia devolver o dinheiro quando pedi para cancelar. A esperança de que ainda haja muita gente boa neste mundo... a esperança de que o próximo mês traga sempres em vez de nuncas!


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