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Como controlar "a fera"

Nos últimos dias várias pessoas me têm perguntado pelo meu estado de espírito, se a minha vontade de me aventurar pelo mundo ainda se mantém. Na verdade a resposta é difícil. A vontade está cá, mas digamos que está meio entorpecida. Tento não pensar muito nisso para não acordar novamente a fera. Sei que vai voltar em força assim que regressar de uma nova viagem, mas logo lidarei com ela da forma que achar mais conveniente na altura.


Por enquanto, para acalmar esta vontade tenho usado algumas estratégias que têm melhorado o meu estado de espírito. A primeira é viajar através dos outros: livros, filmes, séries, blogues. Nem sempre precisamos de sair do nosso sofá para viajar. Há tanto a aprender e a ver através dos olhos dos outros. A minha forma preferida é mesmo a leitura. Desde pequena que adoro ler e sempre vivi de tal forma os livros que me lembro de, em miúda, estar a ler no meu quarto e ir até à cozinha porque tinha fome e ligava a televisão para continuar a ver aquilo que na verdade estava a ler. Quando percebia isso ria-me sozinha. Os meus livros preferidos são sempre aqueles que incluem um destino novo e que me permita conhecer a sua história. Por exemplo, acabei por ir a Creta graças ao livro "A Ilha" da Victoria Hislop, uma das minhas autoras preferidas. Além da leitura, também tenho viajado através de muitas séries e documentários sobre viagens. Ainda ontem estive novamente em Bali com os Portugueses pelo Mundo e esta semana andei de comboio pela África do Sul com o Phillipe do programa das viagens de comboio (bendita gravação!). Sigo também, através das redes sociais, várias pessoas que andam a fazer voltas ao mundo ou por partes dele. Aquilo que acredito que um dia também vou realizar.


A segunda estratégia utilizada foi pensar nas viagens a longo prazo de outra forma. Sei que para manter uma viagem a longo prazo, especialmente se for associada a não se estar a trabalhar (difícil para mim, a não ser que mude de área profissional), serão precisos grandes sacrifícios. É necessário dormir em sítios com fracas condições para que o alojamento fique o mais barato possível. E eu sei como durmo mal com calor, por isso dormir na Ásia em quartos sem ar condicionado seria uma grande tortura. Mas sim, isto são só desculpas que tento que se sobreponham à vontade. Na verdade, não consegui arranjar mais nenhuma. Aquilo que mais me convence a não fazer já uma viagem a longo prazo, mas sim ir fazendo várias viagens ao longo do tempo é pensar que quando voltasse à realidade não me iria adaptar a ter novamente um trabalho com horários, a ter rotinas. Assim, para já prefiro ir conhecendo o mundo aos bocadinhos e guardar este desejo para mais tarde. Até porque quando vemos muita coisa de uma só vez a nossa capacidade de a absorver é bem menor. O casal que conhecemos em Lombok dizia que já nem valorizava as praias e paisagens espectaculares que iam conhecendo porque nos últimos meses já tinham visto tantas tão espectaculares que era só mais uma. E já que arrumei na cabeça esta ideia de conhecer o mundo aos bocadinhos, nada como concretizá-la. É por isso que ando há meses a ver preços de viagens para ir à Ásia ou ao Peru, as minhas prioridades de momento. Claro que não ter datas para as próximas férias não ajuda e, ainda menos, o facto de elas puderem ter ser nas duas últimas semanas do ano, com o Natal pelo meio. Mas para já vou só sonhando nos tempos livres. Ou escrevo no blog ou procuro preços de viagens, uns bons hobbies.


Outra coisa que me apercebi há pouco tempo porque não foi de todo consciente, foi a minha nova obsessão por controlar gastos e gastar o menos dinheiro possível. Uma coisa que me assusta em ter filhos é a possibilidade de não ter dinheiro para viajar. Porque eu acredito que é possível viajar com crianças, adaptando obviamente o tipo de viagem. Mas sem dinheiro não há viagens. Então apercebi-me que desde que voltei da lua de mel tenho feito um controlo bem maior sobre as minhas contas. Instalei um aplicativo que me faz gráficos dos gastos que temos e há coisas que são assustadoras. Controlo muito mais as vezes que vamos comer fora. Continuo a comer e a dar prioridade a alimentos mais saudáveis mesmo que mais caros, até porque sem saúde não dá para viajar. E controlar gastos não quer dizer que tenha deixado de fazer coisas, pelo contrário! Valorizo muito mais as experiências em relação aos bens materiais. Na verdade, a única peça de roupa que comprei desde Junho foi um casaco e foi porque estava cheia de frio. Passei a fazer poupança de tudo o que posso, para guardar esse dinheiro para as viagens e experiências. De que me serve ter uma casa cheia de tralhas que só servem para dar mais trabalho a limpar o pó ou um armário cheio de roupa, se depois uso sempre as mesmas coisas, quando aquilo que me faz realmente feliz são as experiências e as pessoas que se cruzam connosco pelo caminho?!


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