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Suécia, o país verde

Já esperava que a Suécia fosse bastante verde, mas mesmo assim fiquei surpreendida com a cor deste país. Comecei logo a vê-la no avião. Sobrevoámos campos a perder de vista, com as várias tonalidades de verde, como que um tapete feito de pedaços de tecido, cada um da sua cor. No autocarro a caminho de Estocolmo, mais verde por todo o lado. Na própria cidade, como tive oportunidade de ver, ao longo dos quatro dias seguintes, imensos parques por todo o lado, cobertos de relva. Relva daquela boa, sem placas a dizer "não pisar". Relva para as crianças brincarem, correrem, para os adultos conversarem, festejarem. Para, acima de tudo, aproveitar cada raio precioso de sol. O sol lá é aproveitado de forma completamente diferente. Todos andam na rua, nas esplanadas, nos jardins! Tudo menos em sítios fechados. Há fileiras de bancos de rua todos orientados no mesmo sentido, o do sol.


Sendo Estocolmo constituída por várias ilhas, há água por todo o lado, há barcos por todo o lado, há pontões por todo o lado. E onde há um pontão há gente em fato de banho a apanhar sol. Não precisa de haver um pontão. Um jardim é suficiente. Há imensas pessoas na rua, nos parques. Há crianças de todas as idades a brincar na rua. Há pessoas a fazer desporto por todo o lado. Há bicicletas por todo o lado. Não sei como é esta cidade no Inverno (embora tenha curiosidade), mas sei que no Verão os Suecos tiram o máximo partido das suas cidades.


Há pessoas por todo o lado a todas as horas da manhã. Não consegui compreender bem a que horas eles começam a trabalhar, mas pareceu-me que têm uns horários bem mais flexíveis. E ao fim do dia então! Isso que é ver gente! Nas esplanadas não há um único lugar livre. Estão todos ocupados, mesmo sendo 5ª feira e estando a chover. Mas não está frio. Há grupos de amigos, há casais, há pessoas de todas as idades. Há crianças na rua de galochas e calções. E neste dia consegui ser menos Portuguesa. Andei à chuva como se fosse uma coisa naturalíssima para mim. E foi mesmo. Senti-me livre e feliz enquanto as pingas de água me escorriam pela cara.


Esta cidade encantou-me! Já ia com grandes expectativas, mas foram totalmente superadas. Senti que se tivesse de viver ali seria fácil. Gostei das pessoas. São simpáticas e disponíveis. Gosto da maneira nórdica de aproveitar a vida, de não se queixarem porque chove ou porque está sol. A vida segue independentemente do tempo. Está a chover veste-se um impermeável, está a fazer sol vai-se para o jardim de biquíni. Gosto desta simplicidade. Gosto que as crianças brinquem na rua, quer chova quer faça sol. Gostei inclusivamente de, num dia estar a desejar estar de calções e, no seguinte, a desejar ter o polar do meu impermeável vestido. Liberdade, despreocupação! Fiz coisas que não fazia há anos: rebolar na relva e ficar ali deitada a rir sem parar! Adorei ver pessoas adultas olharem para nós enquanto nos ríamos, deitadas no chão, e ver os olhos brilharem de satisfação. Adorei que não houvesse nem um vislumbre de crítica. Dizem que os Suecos mudam do Inverno para o Verão, que no Inverno são muito contidos. Se assim é, ainda bem que conheci os Suecos do Verão!


Devido aos preços altos do alojamento na Suécia, voltei a reviver uma experiência que já tinha posto de parte depois das últimas não terem sido muito positivas - ficar num hostel com quarto partilhado. E correu muito bem. O nosso quarto tinha 5 camas e 7 pessoas a dormirem lá. Eu e a C., um casal de Polacos com a filha de 8 anos e outro casal, ela Russa e ele Canadiano. Tirando a Polaca, todos os outros eram extremamente simpáticos e respeitadores. Ainda dividimos o quarto com eles nas primeiras noites, mas na última tivemos outros colegas de quarto. Esses eram sisudos e não se ouvia uma mosca na quarto. Mas ainda bem. Por ser tão constrangedor estar no quarto, acabámos por ir para a cozinha beber um chá. Ficámos na conversa com o Magnus, um Sueco de cerca de 50 anos que estava no hostel porque vendeu a casa dele e ainda não comprou outra e quis saber como era ficar num hostel, e o Alfredo, um Italiano de Milão, com ideias muito próprias sobre o mundo. Foi muito interessante. Gostei especialmente de conhecer o Magnus para saber um pouco mais sobre a vida na Suécia. Por exemplo, fiquei a saber que quase todos têm carro, quando pensava que eles andavam sobretudo de transportes e de bicicleta e, também, que os Suecos só têm uma televisão na sala, não há em mais nenhuma divisão da casa. Ele até se riu quando dissemos que em Portugal e em Itália quase toda a gente tem televisão no quarto.


Em Estocolmo andámos quase sempre a pé para todo o lado. Aliás, só comprámos passe no último dia porque chovia torrencialmente e estava frio para andarmos molhadas na rua. A cidade é enorme, mas sem ser a pé é difícil de a conhecer realmente. Não entrámos em quase nenhum museu, só no Skansen, um museu ao ar livre, onde há casas e lojas de várias zonas da Suécia, que representam o modo de vida Sueca sobretudo entre 1890 e 1900. Estas estão abertas aos visitantes e têm funcionários vestidos à época da casa, que nos explicam o contexto da mesma, enquanto fazem actividades do "seu" dia-a-dia, como lavar a cozinha. É muito interessante. Foi pena só termos apanhado as casas abertas perto de uma hora, mas a sesta ao sol, no jardim, falou mais alto e só acordámos àquela hora. Além deste museu, só demos uma volta num barco turístico para ver a cidade da água. Infelizmente estava repleto de chineses que atrapalharam um bocado a vista, mas tirando isso valeu bem a pena. De resto, apenas respirámos ao máximo a cidade e tudo o que as ruas tinham para nos oferecer! Tirámos um dia para conhecer Uppsala e Sigtuna, ambas cidades pequeninas mas bem fofinhas.


No final do quinto dia fomos até uma ilha mais a sul, Gotland. Chegámos já bem de noite e fizemos o caminho a pé até ao parque de campismo onde ficámos, a cerca de 2 km. Foi duro pelo frio e vento. Mas foi giro fazer o caminho inverso para Visby, a capital de Gotland, na manhã seguinte e ver as diferenças com a luz do dia. Tudo muda. Visby é uma cidade pequena e a parte antiga está rodeada de uma muralha, mesmo junto ao mar. Não vou dizer praia porque falta-lha a areia. No seu lugar há rochas e camadas de algas secas. Cheira a maresia, mas o som do mar é diferente. Não há rebentação. Há um conjunto de ondas simultâneas que nunca chegam a rebentar.


Em Gotland alugámos um carro para conseguirmos tirar o maior partido da ilha. E fizemos lindamente. A ilha ainda tem cerca de 170 km duma ponta à outra. E tem uma beleza natural de tirar o fôlego. A ilha tem poucas povoações e as que tem são bastante pequenas. Não há prédios, só casas de madeira pintadas de várias cores. E vê-se todo o tipo de animais à solta, desde coelhos, ovelhas, patos, gansos a surfarem ondas do mar... É mesmo incrível. As paisagens variam muito ao longo da ilha, mas há uma constante, são todas lindas. Há apenas duas praias de areia, numa pequena ilha a norte, com acesso através de um ferry gratuito, a cada meia hora (na época alta a cada 15 minutos). Estranhamente, o mar era calmo, límpido e com uma temperatura melhor que por vezes em Portugal. Só não fomos ao banho porque não tínhamos levado toalhas. Vimos também uma zona onde haviam umas pedras enormes, esculpidas pelo vento, que me davam a sensação de pequenez. A sensação de que sou apenas um pequeno ponto neste mundo cheio de coisas para ver.


Para terminar a viagem em beleza, chegámos ao parque de campismo ainda de dia e assistimos ao pôr do sol junto à água. Mais uma vez fui contemplada com um espetáculo extraordinário da natureza. Mais uma senti-me sortuda! Sortuda por ser um pequeno ponto neste enorme mundo, mas um ponto que tem tido a possibilidade de se deslocar e apreciar estas dádivas. Sortuda por estar ali, sortuda por no dia seguinte voltar para o sítio onde sou amada! Porque desta vez foi maravilhoso ir, mas também foi maravilhoso voltar. Viver sem o meu P. e ser feliz não é possível neste mundo, por maior e belo que ele seja!


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