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Ella - o início do dilúvio

Chegámos a Ella estava prestes a escurecer. Saímos da estação em direcção ao centro da cidade e deparámo-nos com um cenário completamente diferente do que tínhamos visto até então. Ella é uma pequena cidade cheia de restaurantes, cafés e lojas para turistas, com tudo o que isso traz de bom e de mau.


Dirigimo-nos ao hotel que tínhamos seleccionado no booking, o Ella Rock House, mas que não tínhamos reservado. Efectivamente conseguimos um preço mais baixo. Nessa noite só saímos mesmo para jantar porque o cansaço e o sono eram enormes.


No dia seguinte, assim que pus os pés no chão descobri que tinha um andar novo. Um andar, um sentar, um levantar.. tudo o que exigisse movimentos dos membros inferiores. Descobri que o que mais custava era descer escadas, da pior forma possível! Tinham-nos dito que o pequeno-almoço era no terraço. Então subimos os dois andares e quando lá chegámos estava vazio e inundado pela chuva torrencial que caía há várias horas. Portanto tivemos de descer os 3 pisos até à entrada, onde estava a ser o pequeno-almoço.


No último lance de escadas um dos empregados olhou para mim com ar de estranheza e eu disse-lhe: "Adam´s Peak!". Ele disse "Ahh!" E eu acrescento: "The big one". A cara dele mudou para pena e fez um "Ohhhh!".


Depois do pequeno-almoço a chuva deu tréguas e decidimos seguir até ao Little Adam´s Peak. O acesso ao Little Adam's Peak está a cerca de 1km e meio da cidade e é relativamente plano. Não fossem as pernas doridas e nem custava nada. Chegados ao caminho de terra, a parte final do acesso, a paisagem torna-se lindíssima. Há campos de chá e montanhas verdes por todo o lado que, com o sol a bater nos pingos de chuva, pareciam brilhar. Fomos parando várias vezes para apreciar a paisagem e tirar umas fotografias. Pelo caminho cruzaram-se várias mulheres que transportavam montes de paus à cabeça e paravam para as fotografarmos, pedindo logo de seguida dinheiro, mas sem sorte connosco.


A subida para o little Adam´s Peak é feita em degraus, mas muito poucos. Não exige grande esforço. Chegados ao final do primeiro pico, descobrimos que havia outro pico mais à frente que exigia uma descida acentuada por um caminho estreito com pedras soltas e depois uma subida nas mesmas condições. Seguimos o mais rápido possível porque um nevoeiro denso aproximava-se. Mas a nossa rapidez não foi suficiente. Quando lá chegámos estava completamente tapado. Ainda esperámos algum tempo a ver se passava, mas o frio e a fome venceram e voltámos para trás.


O ponto seguinte era a Nine Archs Bridge. Decidimos seguir pela estrada que o maps.me nos indicava e procurar um restaurante pelo caminho. Demos por nós a entrar num trilho no meio de um campo de chá, tendo primeiro confirmado o caminho com um vendedor de rua.


Íamos já a andar há um bocado quando de repente ouço umas patas a baterem com força no chão, a grande velocidade. Ia olhar para trás mas antes de conseguir senti uma coisa pesada a bater-me contra as pernas. Dei um berro que assustou tanto o Pedro como o cão que tinha batido contra mim. Provavelmente já me viu muito em cima e não conseguiu travar. Mas o bicho assustou-se tanto que fugiu imediatamente. Ainda tive uns minutos até recuperar o ritmo cardíaco.


Já relativamente próximos da ponte, passámos por um senhor que apontou para o relógio e disse 2! Como eram quase duas acelerámos o passo para ver o comboio a passar. Passámos por um pequeno café mas decidimos almoçar depois do comboio passar. Encontrámos um local onde conseguíamos ver a ponte numa boa perspectiva, montámos o tripé e sentámo-nos à espera. E o tempo foi passando e nada de comboio. 10 minutos, 20, 30, 1 hora... Ouvíamos vários barulhos que pareciam mas nada de comboio.


Às 3.05 finalmente ouvimos o apito inconfundível do comboio e lá passou ele. Nessa altura estávamos esganados de fome e subimos logo para o café para finalmente comermos. Só tinham omelete e pão de forma. Perfeito, só queríamos comer e, ainda por cima, estava muito saboroso. O senhor ainda nos fez uma salada de fruta óptima e ficou baratíssimo. Vimos depois que, mais do que um café, aquilo era a mercearia local. Havia uma cómoda com portas de vidro onde havia de tudo um pouco à venda. Descobrimos também que afinal o comboio veio a horas, segundo estava afixado no café. O outro senhor é que nos enganou.


Descemos até à linha com muito cuidado, porque a descida era acentuada e estava bastante enlameada. Ainda estivemos bastante tempo a tirar fotos na ponte e depois seguimos caminho pela linha para voltar a Ella. No final tivemos de acelerar um pouco porque estava a chegar a hora do comboio seguinte e as bermas eram um pouco assustadoras por quase não existirem. Não chegamos à estação a tempo, mas estávamos a uns 10 metros dela quando vimos o comboio a arrancar. Felizmente numa zona com bastante espaço.


À noite fomos a um bar com um conceito diferente do que estamos habituados, mas muito engraçado. Era o último piso de um restaurante todo em madeira, onde os sapatos ficavam à entrada! O espaço estava cheio de puffs e sofás baixinhos. E toda a gente estava descalça!


Para o segundo dia em Ella tínhamos planeado a outra caminhada mais conhecida, a Ella Rock com passagem por uma cascata. Desta vez o tempo não ajudou. A chuva não deu tréguas o dia inteiro. Vimos todas as lojas turísticas de Ella, fomos aos correios enviar postais e passámos o dia entre restaurantes, cafés e o hotel, para fugir o mais possível da chuva.


À noite decidimos aproveitar para fazer uma aula de culinária no restaurante onde tínhamos jantado no dia anterior, o Cafe Crave. Quando chegámos não havia luz, mas os senhores resolveram o problema com umas velas, apesar de não se ver quase nada. Felizmente a luz voltou antes da aula começar. Além de nós estavam mais 3 holandeses na aula. Depois de pormos os chapéus de Ratatouille, lá começou a aula. O Pedro foi nomeado ajudante de cozinheiro e teve de cortar tudo. Aprendemos a fazer vários tipos de caril, desde frango a legumes e sambol de côco que eu adorei. Infelizmente perdi todas as receitas porque estavam no caderno perdido em viagem. A aula foi muito gira e o jantar estava óptimo.


Para a manhã seguinte havia duas hipóteses, ou parava de chover e fazíamos a caminhada ou seguiríamos para o destino seguinte, Udawalawe. A chuva não parou por isso seguimos.. mal sabíamos que a chuva não nos daria tréguas por muitos mais dias! Mas férias são férias e nem isso nos desmotivaria!



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