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Ha Noi, a cidade das buzinas infernais

Na verdade, o título não é muito correcto. Não é a cidade das buzinas infernais, é uma das muitas. Mas foi a primeira. A primeira cidade, a primeira impressão.


Chegámos de noite. Não é difícil, a partir das 6 e pouco é de noite. Mas nós chegámos já por volta das 10, com uma necessidade extrema de um banho, depois de cerca de 29 horas em aviões e aeroportos. A chegada ao hotel, aquele que eu me tinha vangloriado muito porque ia pagar 35€ por duas noites num 3 estrelas, foi uma desilusão. O quarto cheirava a mofo, tinha humidade por todas as paredes, uma cama dura (moda asiática, descobrimos mais tarde), toalhas rotas e manchadas e o pior de tudo: a janela dava para uma parede de tijolo com cabos. Mas passada a decepção inicial não deixei que isso se tornasse um problema. E de banho tomado tudo parece melhor!


Saímos para jantar. Estávamos no Old Quarter, onde há um restaurante de rua porta sim, porta sim. Ou melhor passeio sim, passeio sim. Come-se sempre na rua, em esplanadas que ocupam os passeios, com bancos e mesas de plástico. Definitivamente no Vietname esqueceram-se que existe ergonomia. Os bancos são sempre muito baixos, mas as mesas são praticamente da mesma altura, o que dificulta bastante o posicionamento das pernas. Pedimos através de imagens e chegou-nos uma comida com um cheiro muito estranho. Não era má, mas aquele cheiro deixou-me um nauseada. O cheiro ou o aspecto dos pauzinhos que tirámos do cestinho. Nunca saberei.


No dia seguinte acordámos cedo para conhecer a cidade pois só lá ficaríamos um dia. Descobrimos uma cidade confusa mas ao mesmo tempo curiosa. O Old Quarter, onde começámos a nossa visita, é uma emaranhado de prédios altos e muito estreitos, já bastante antigos. Todas as ruas são de lojas. Lojas organizadas por rua. Cada rua vende um tipo de produto. Tapetes, caixas de esferovite, ferramentas, material de aniversário, notas falsas para as oferendas budistas... Há ruas só de comida. Há comida no meio das outras lojas. Há pessoas a cortar carne no chão. Há pessoas a cozinhar. Há pessoas a comer. A qualquer hora. A mistura de cheiros é inebriante. A maioria são desconhecidos e não são bons. A sensação de náusea mantém-se. Mas não me deixei limitar por isso, comi de tudo. O café vietnamita é óptimo, especialmente a versão gelada.


Os passeios estão sempre ocupados. Ou são lojas ou estão motas estacionadas. Andar naquelas ruas é como fazer uma corrida de obstáculos. E depois há motas em todos os sentidos, sempre a buzinar. Não buzinam a reclamar, buzinam a avisar. A maioria das motas não tem espelhos, então buzinam para avisar que estão atrás. Buzinam as motas, buzinam os táxis, buzinam os autocarros. Não há um segundo de silêncio nesta cidade.


E o medo de atravessar a estrada? Eles não param, não param por motivo nenhum, muito menos porque um peão vai a atravessar a estrada.No Old Quarter, em que as ruas são estreitas, a quantidade de motas é relativamente pequena, apesar de muitas vezes virem em sentido contrário, e de carros ou autocarros ainda menor. É quase fácil. Custa um bocadinho nas primeiras duas ou três vezes, mas depois já não é problemático. Mas quando saímos desta zona e chegamos a avenidas grandes, aí sim começa o medo. Muitas vezes parei, olhei para a estrada e pensei: não consigo, desisto, quero voltar para casa! E lá atravessávamos a controlar o instinto de correr, seja para a frente, seja para trás. Sabíamos que parar é morrer, literalmente, mas correr também. Então lá íamos avançando, passo a passo, olhando para os dois lados, não venha alguma mota em sentido contrário, até chegarmos ao outro lado e suspirarmos de alívio, para logo de seguida começar todo o processo novamente. Tínhamos também de ter atenção ao que levam as motas porque pode ser algo que nos magoe, como por exemplo uma trave com 5 metros de comprimento levada no ombro. Ou uma armário de casa de banho. Ou bicicletas empilhadas na parte de trás da mota.


Saindo do Old Quarter começámos a ver os contrastes desta cidade. Ruas largas ladeadas de vivendas enormes. São as embaixadas. E através de uma destas avenidas chegámos ao mausoléu do Ho Chi Minh. Um parque a perder de vista, todo relvado só com um mausoléu, quando há milhares de pessoas a viver em casas minúsculas, em prédios encafuados uns em cima dos outros. Quando há prédios construídos em cima da linha de comboio. Tão próximos que as pessoas têm de entrar nas portas quando o comboio passa. Não tivemos oportunidade de ver as ruas com o comboio a passar, mas saímos da cidade de comboio, por estas ruas!


Saí desta cidade fascinada. Apesar de não aguentar nem mais um dia de buzinas, cheiros e cores! São demasiados estímulos a preencher-nos todos os órgãos dos sentidos a cada segundo. É uma cidade muito cansativa, mas vale muito a pena conhece-la. É uma cidade feita para os seus habitantes. As lojas e mercados de rua são para os seus habitantes, ninguém nos tenta vender nada (vá, só fruta e táxis/ mototáxi, o que também se pode tornar cansativo). Eles continuam a sua vida como se as ruas não estivessem repletas de turistas. São pessoas um pouco sisudas, mas quando nos brindam um sorriso enchem-nos o coração, porque quando sorriem é um sorriso que lhes vem da alma!





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