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Bali das pessoas

É difícil descrever Bali em palavras. Bali, apesar de ser extremamente turística, dos inúmeros vendedores de rua, tem um encanto natural que nada consegue estragar. Bali é a única ilha na Indonésia que é Hindu, o que me pareceu influenciar muito este encanto.


Começámos por ficar em Legian, um dos pontos mais turísticos de Bali e próximo do aeroporto, mas não com o objectivo de lá ficar. É um ponto relativamente central para conhecer o sul de Bali e, a partir dali, facilmente chegaríamos de mota aos pontos que queríamos conhecer.


O primeiro dia, ainda com efeitos do jet leg, ficámos por ali, fomos até à praia e a ideia era à tarde irmos até um templo na água para ver o pôr do sol atrás do templo, mas começou a chover e, como seria a nossa primeira aventura de mota, decidimos adiar a nossa ida ao templo.


No segundo dia alugámos uma mota ao pé do hotel. Erro de principiantes: não negociámos o preço, mas a verdade é que mesmo assim foi barato. Primeira viagem logo com imenso trânsito, rotundas e via rápida. O meu P. foi um herói. Eu nunca teria conseguido meter-me naquele trânsito sem nunca ter andado de mota e, ainda por cima, a conduzir à esquerda, mas ele esteve lindamente. Aliás eu, por esta altura, ainda não conseguia sequer largar os apoios das mãos (o que passou ao fim do segundo dia).


Chegámos a Uluwatu e começámos logo a ver macacos no parque de estacionamento. Guardámos tudo o que os macacos nos pudessem roubar, pagámos a entrada no templo e vestimos o sarong obrigatório por estarmos de calções. Uluwatu é um templo Hindu de tirar o fôlego. Começámos por entrar numa espécie de floresta, tudo verde e cheio de animais, até que chegamos a uma espécie de muralha que acompanha toda a escarpa ao longo de 1,5/ 2 km. O mar bem azul está lá em baixo, com ondas que rebentam cheias de força contra a escarpa e enchem tudo de espuma branca. Apesar de haver bastante gente a visitar o templo há silêncio. Uma sensação de paz. Muito calor também, que nos obriga a descansar muitas vezes e a guardar as energias para continuar a caminhada. Até o calor parece fazer parte deste templo. As pausas para descansar do calor permitem-nos observar os pormenores e sentir mais tudo o que se passa à nossa volta. Infelizmente, mas compreendo o motivo, não é possível entrar nos locais de oração dentro do templo, nem assistir a uma cerimónia. Ficou essa curiosidade. Talvez seja possível num local Hindu menos turístico.


Seguimos pela costa para norte e conhecemos 2 praias: Padang-padang e Bingin. A primeira tem passagem através de uma fenda na rocha que dava acesso a uma pequena baía, rodeada de falésias com plantas mesmo até à água. A segunda tinha um acesso difícil mas valeu totalmente o esforço. Começámos por seguir numas pequenas ruas ladeadas por muros ou vedações das casas, até que chegámos aos degraus, uns de terra, uns de pedra, outros feitos por sacos de serapilheira. Toda a encosta da praia tem edifícios, guesthouses na maioria, mas que encaixam na perfeição naquela falésia cheia de verde. É sobretudo dirigida a surfistas mas tem um encanto que me faria ficar ali uma semana sem me cansar. Jantámos num restaurante com as mesas na areia, mesmo junto ao mar, a ver o pôr do sol à nossa frente.


No dia seguinte fomos até Tanah Lot. Como a maré estava cheia não era possível aproximarmo-nos do templo e estavam todas as pessoas concentradas num pequeno espaço que permitia ter uma vista melhor. É bonito mas aqui, devido à quantidade de turistas em luta pela melhor foto e à quantidade de vendedores, não houve aquela sensação mágica do Uluwatu.


À tarde seguimos de autocarro para Ubud onde chegámos já à noite (é noite a partir das 18). Ficámos no hotel mais fofinho em que já alguma vez tínhamos estado. Era uma casinha toda em madeira com um jardim e varanda privada e uma cama daquelas de princesa, ou de dossel se quiserem. Ubud é uma zona que ficou conhecida sobretudo depois do filme Comer, Orar e Amar e mais uma vez é totalmente dirigida ao turismo. Mas, mais uma vez, tem um encanto natural.


É a zona dos campos de arroz, onde é possível caminhar no meio da sua grandeza. Começámos a visita pelos templos Hindus no centro da cidade. Os templos têm pormenores interessantes mas senti sempre que me faltava compreendê-los. Não conheço o hinduísmo e sei que só poderia realmente desfrutar destes templos com uma explicação. Ainda tentei perceber algumas coisas perguntando às pessoas de lá mas o nível de inglês não permitia grandes explicações. Tentei pesquisar na Internet mas percebi que há imensas variações dentro do hinduísmo e que só conseguiria saber mais através de alguém de lá, o que não chegou a acontecer.


De seguida fomos para a floresta dos macacos, animal sagrado para eles. Uma parte da floresta parece saída de um conto de fadas, com as pontes de madeira que atravessam todo aquele verde, árvores gigantes com raízes aéreas, os macacos, na sua vida, como se nós não existíssemos. Dá vontade de ficar ali horas só a observar a natureza que, apesar da intervenção do homem, ainda parece estar no seu estado mais puro.


Terminámos o dia nos miradouros dos campos de arroz. A paisagem é maravilhosa mas conseguiu ser estragada pelos vendedores de rua, pela primeira e única vez em Bali. Enquanto tentávamos desfrutar simplesmente da vista fomos perseguidos por uma senhora a tentar desesperadamente vender-nos postais, um senhor com os cestos e os chapéus típicos de lá a tentar tirar fotos e outro senhor a tentar vender o acesso aos campos. A nossa vontade foi simplesmente fugir dali. Felizmente foi situação única porque a maioria dos vendedores eram super simpáticos e se dizíamos não, não insistiam mais.


No dia seguinte tentámos ir a Munduk mas só havia 1 autocarro por dia em cada sentido, mais ou menos à mesma hora, por isso tivemos de ficar por Ubud. Aproveitámos para descansar, aproveitar a piscina e dar mais uma voltas pela cidade. Depois de algumas pesquisas na net encontrei um caminho pelos campos de arroz, que começava mesmo na cidade. Perdemo-nos por lá, sem mapas e sem preocupações. Só havia um caminho e seguimos por ele. Uma vez por outra passava alguém por nós, na maioria das vezes trabalhadores dos campos. Foi curioso passarmos, em poucos minutos, do reboliço da rua mais movimentada de Ubud para o sossego e beleza dos campos. Seguimos sempre o caminho até que numa bifurcação encontrámos um senhor que nos apontou para um dos lados e disse "river". E nós seguimos por aí. Depois entrámos numa pequena povoação com meia dúzia de casas e encontrámos um placa a indicar o rio. Começámos a descer por um caminho estreito, sempre a seguir as placas até que chegámos ao tal rio. Um pequeno riacho no fundo de duas encostas, só verde em toda a volta e barulho da água a correr. Que sensação maravilhosa. Depois de um esforço físico grande, mais pelo calor que propriamente pela dificuldade do caminho, encontrar um riacho fresco. E a esta sensação de frescura e felicidade pura, ainda acrescentar a sensação de não fazer ideia onde estava e isso não me preocupar minimamente. Senti-me renovada. E sem saber ainda, daí a umas horas voltaria a ter a mesma felicidade.


Nessa noite fizemos um percurso nocturno de subida à cratera de um vulcão, o monte Batur, para assistir ao nascer do sol. Foram buscar-nos às 2 da manhã e iniciámos o percurso por volta das 4. Estavam centenas de pessoas. A subida teve 3 fases, cada uma com dificuldade acrescida em relação à anterior. A primeira foi quase a direito e em terra batida, enquanto víamos as lanternas dos mais adiantados como que pirilampos no escuro a subir a pique; a segunda foi a subida mais acentuada, num caminho com bastantes pedras soltas e, por fim, também uma subida bastante íngreme mas de areia, o que obrigava quase ao dobro dos passos. Chegámos ao cume já se começava a ver um pouco a paisagem iluminada por feixes cor de laranja. O barulho provocado pelo número elevado de pessoas que esperavam para ver o sol nascer era pouco condizente com a situação. Apesar disso a energia do sol a aparecer aos poucos era quase palpável e fazia esquecer tudo em volta. Senti-me tão feliz e sortuda por estar ali naquele momento, a ver a escuridão a desaparecer e a luz, a pouco e pouco, a revelar toda aquela imensidão e beleza, tudo isto abraçada ao amor da minha vida. Se tivesse de escolher um único momento da viagem para voltar atrás no tempo seria, sem dúvida, este.


Nesse dia, depois de descansarmos um pouco, resolvemos procurar algo diferente e menos turístico. Descobrimos que, numa cidade a cerca de 15 km, havia um mercado noturno, um mercado verdadeiro, não para turistas e fomos. Chegámos antes da hora de início e demos uma volta a pé pela cidade onde contemplámos a realidade daquelas pessoas: era fim da tarde e estavam concentrados num campo de relva enorme onde se via de tudo, pais a brincarem com os filhos, crianças e jovens a correrem, a jogar criquet, adultos de todas as idades a fazerem uma aula de yoga e orgulho e curiosidade nos olhos de todos por nos verem ali. Alguns tentaram falar connosco, maioritariamente por gestos, para perceber porque estávamos ali e via-se o orgulho que tinham em que ali estivéssemos. O mercado em si era um misto de tudo, desde comida já cozinhada, a caixas e tachos, fruta, roupa, cd's. E pela primeira vez fomos os únicos estrangeiros num sítio em Bali e não nos tentaram vender nada.


Quanto aos Balineses surpreenderam-me bastante pela positiva. São um povo muito sereno, curioso e sempre sorridente. São extremamente trabalhadores e sem dúvida que sabem receber e valorizar aquilo que o turismo lhes traz. Fazem-nos sentir tão bem vindos que arrisco a dizer: aquilo que mais gostei em Bali foram as pessoas!


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