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O primeiro!

Sendo este o primeiro post talvez faça sentido contextualizar.


O meu nome é Inês, estou a menos de 6 meses de fazer 30 anos. Trabalho no mesmo sítio há perto de 6 anos. Não há trabalhos perfeitos mas até recentemente pode-se dizer que gostava daquilo que fazia. Acho que ainda devo gostar, mas estou meio perdida.


Aquilo que gosto realmente de fazer é viajar! Descobri esta paixão no 3º ano de faculdade, quando fiz Erasmus. No ano seguinte fiz a primeira viagem organizada por mim. Logo a seguir organizei a minha viagem de finalistas. Desde essa altura que nunca mais fui feliz sem consultar sites de buscas de voos baratos! Mal chego de uma viagem já estou a magicar a próxima, a pensar quando terei férias ou um fim de semana prolongado para programar a próxima.


Há 5 anos tive a sorte de conhecer o homem da minha vida! Não nos conhecemos a viajar mas a nossa história ficou logo marcada por viagens e aeroportos. Não pelos melhores motivos. Conhecemo-nos nas férias, quando ele trabalhava em Angola. Por sorte o visto dele teve de ser alterado e ficou cá 2 meses que nos permitiram conhecermo-nos o suficiente para tentarmos aquilo que todos nos diziam ser impossível: uma relação à distância. Foi um ano marcado por despedidas, saudades, muito skype e reencontros dos bons! Foi num destes reencontros que saí pela primeira vez da Europa. Encontramo-nos em Cabo Verde, uma semana bem intensa. No final desse primeiro ano de relação ele voltou para Portugal de vez. Fomos viver juntos ao fim de poucos meses. Acho que lhe peguei o bichinho das viagens e temos viajado sempre que possível. Não tanto como gostaríamos porque a vida não nos tem facilitado a marcação de férias conjuntas nem com antecedência suficiente para fazermos viagens como eu realmente gosto. Mas temos feito as viagens possíveis e todas têm sido fantásticas à sua maneira.


No último verão, mais uma vez numa viagem, veio um emocionante pedido de casamento. Foram 9 meses a preparar um dia que foi maravilhoso. Um verdadeiro sonho. Não há melhor sensação que ter a pessoa que amamos demonstrar-nos que quer passar o resto da vida connosco, sem ses! Não posso dizer que tenha sido o dia mais feliz da minha vida porque no dia seguinte partimos para a Indonésia onde se manteve o estado de felicidade desse dia. Posso sim, dizer que foram os 16 dias mais felizes da minha vida. Sou realmente uma sortuda. Há quem tenha 1 dia mais feliz, eu tive 16. Além disso, tenho um marido (ainda soa muito estranho) que alinhou na viagem que há anos eu desejava fazer, mesmo sendo a lua de mel. Ir para a Ásia de mochila às costas. Fiquei rendida. Apaixonada pela Ásia. Quero conhecer mais e mais. Quero ir a todo o lado. Esta viagem mudou-me por dentro. Fez-me pela primeira vez pensar a sério em pegar numa mochila e percorrer o mundo durante um ano. Claro que sempre tive esse sonho. Mas era um sonho que não levava a sério. Fiz a viagem de regresso com um peso dentro de mim. Não queria regressar de onde fui tão feliz. Não queria regressar à realidade de ter de trabalhar num sítio que cada vez me tira mais energia, num sítio onde não me sinto feliz. Não queria voltar à realidade de ter um marido novamente à procura de trabalho, de não saber o nosso futuro. De não saber quando teremos uma férias. E eu vivo a contar os dias para o fim de semana, a contar as semanas para o fim do mês, a contar os meses que faltam para as férias.


Mas tive de regressar à realidade que não queria. Regressei e a sala está arrumada. Já não há caixas nem sacos com decorações do casamento. Já não há empresas a quem pedir orçamentos. Já não há nada para planificar. Também não há viagens para planificar num futuro próximo. Só expectativas dos outros! "Tens um trabalho estável e com boas condições" Filhos! Casaram, há que ter filhos! Ele tem de arranjar um trabalho. Não temos filhos, não temos que ter já, só quando quisermos. E queremos, mas não tem de ser já! Temos liberdade. Tenho um trabalho estável mas que não me faz feliz. Ele não tem trabalho. Tudo o que me apetece é dizer-lhe: vamos arriscar, faz uma mochila e vem comigo conhecer o mundo. É isso que me faz feliz: estar com ele e viajar! Só os dois juntos fazem sentido. Mas depois falta-me a coragem. E há as expectativas: os meus pais matavam-me se deixasse o emprego de sonho deles. Mas é deles não é meu. Mas há as amarras invisíveis que me impedem. Há os medos. E depois se for e quando voltar ainda for pior que agora? Mas e se depois tenho filhos e ganho amarras reais e me arrependo para o resto da vida de não o termos feito agora? Também há quem o faça com filhos, mas se não tenho coragem agora vou ter depois? Gostava que alguém me desse estas respostas mas sei que não as vou encontrar nos outros, só em nós os dois.


E foi neste turbilhão de ideias e sentimentos que cheguei aqui. Nesta viagem recuperei um hábito antigo: escrever um diário. Nele acabei por fazer algumas reflexões pessoais sobre as realidades que encontrei na viagem que me relembraram duma coisa: gosto de escrever. Consigo transmitir muito mais de mim escrevendo. E depois de 3 dias de trabalho a desejar fugir dali, a pesquisar sobre licenças sem vencimento, a saber que ele está na onda oposta à minha neste momento. Depois de perceber que neste momento me falta um objectivo que me faça continuar nesta realidade da estabilidade sem dar em maluca, pensei: e se começasse um blog?


E cá estou eu. Não sei se vou continuar a escrever, não quero mais compromissos nem expectativas. Quero apenas que seja o meu escape sempre que precisar de pôr as ideias em dia.

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